A caminho da capela
Siria Wagner Silva da Silveira
Com a petiça branca na encilha
Lá ia eu, através das cochilhas,
Cruzando porteira após porteira,
Para a escola pela vez primeira.
No despertar da alvorada,
Acordava com a passarada.
Do pessoêlo recheado, na garupa
O perfume da farofa exalava.
Atravessava a grande fazenda,
De rédeas firme na mão,
Com o garbo juvenil de uma prenda.
A esperança e a saudade no coração.
No carreiro aberto pela boiada,
Minha égua petiça troteava.
Sentada nos montes de cupins,
Colhia “malmequer” e sorteava.
A cada pétala da linda flor,
Reportava-me a um amor,
Do qual não desfrutava,
Mas bem-me-quer sempre dava.
Brincava no açude e na cachoeira,
Montava e continuava faceira.
Na restinga dialogava com o Curupira,
O boitatá e o Saci, que nunca vira.
A serrinha era toda povoada,
Encontrava tropeiros e boiadas.
E no trote da potranqinha
Nunca me sentia sozinha.
Dona Mariquinhas me hospedava.
Toda a semana eu estudava,
Para no final eu voltar,
E na petiça, no domingo, camperear.
Quantas cenas vividas,
Naqueles tempos ditosos.
São pedaços de minha vida
Ora tristes, ora saudosos.